Rota Bioceânica: desenvolvimento com responsabilidade ambiental

A tão falada Rota de Integração Latino-Americana (RILA) — conhecida popularmente como Rota Bioceânica — promete revolucionar a logística e o comércio internacional entre o Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, encurtando distâncias até os portos do Pacífico e abrindo novas janelas de oportunidades econômicas. Mas junto com o progresso, vem uma pergunta crucial: quem vai cuidar do meio ambiente?

Desenvolvimento, sim. Mas com equilíbrio.

O traçado da RILA atravessa ecossistemas sensíveis e preciosos, como o Pantanal, o Chaco paraguaio, as matas ciliares, rios importantes, além de regiões que ainda lutam por infraestrutura básica como o saneamento ambiental.

Se a promessa é de prosperidade, a obrigação é de sustentabilidade. Não podemos repetir erros do passado, em que estradas e obras foram feitas sem estudo de impacto, levando ao desmatamento, assoreamento de rios, desequilíbrio ecológico e abandono de populações tradicionais.

Medidas que os governos devem adotar já:

  1. Licenciamento ambiental rigoroso e transparente
    Nada de flexibilizar normas. O licenciamento da RILA precisa ser técnico, independente e com ampla participação social. Os estudos de impacto (EIA/RIMA) devem considerar o longo prazo e os efeitos indiretos da obra.
  2. Proteção efetiva do Pantanal e das nascentes
    O Pantanal é patrimônio natural do Brasil e do mundo. Obras de infraestrutura devem manter distância segura de áreas alagáveis e respeitar corredores ecológicos. O fluxo de águas não pode ser alterado. Qualquer interferência pode desencadear colapsos ambientais.
  3. Recuperação e preservação de matas e margens de rios
    As matas ciliares precisam ser recuperadas onde estiverem degradadas. Novas áreas de preservação permanente devem ser delimitadas ao longo da rota. O reflorestamento com espécies nativas deve ser obrigação contratual das empreiteiras.
  4. Investimento em saneamento básico nos municípios da rota
    O aumento do fluxo populacional e comercial trará pressão sobre cidades que ainda carecem de coleta e tratamento de esgoto. Governos devem incluir nos planos da RILA investimentos diretos em saneamento, abastecimento de água e gestão de resíduos.
  5. Monitoramento ambiental contínuo e independente
    A RILA precisa ter um sistema permanente de vigilância ambiental, com dados públicos, auditorias externas e envolvimento de universidades, ONGs e comunidades locais.
  6. Participação dos povos originários e comunidades tradicionais
    Nenhuma decisão pode ser tomada sem ouvir quem mora há séculos na região. Povos indígenas, ribeirinhos, pequenos produtores e pescadores devem ter voz ativa no processo.

Conclusão: a RILA pode ser um exemplo — ou mais um desastre anunciado

A Rota Bioceânica tem potencial de ser um modelo de desenvolvimento sustentável, conectando países sem destruir a riqueza natural que nos une. Mas isso depende de decisões políticas firmes, compromisso ambiental verdadeiro e vigilância da sociedade.

Mais que uma estrada, a RILA é um teste: o Brasil está pronto para crescer sem destruir?
A resposta, como sempre, virá das atitudes.

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